Um governo contra o meio ambiente
Após dois anos e meio destruindo o Brasil, o ministro Ricardo Salles caiu em 23 de junho, pressionado por duas investigações no Supremo Tribunal Federal (STF). Salles é acusado de favorecer madeireiras e foi alvo de busca e apreensão em maio. Deixa como legado dois anos de desmatamento em alta, dois recordes sucessivos de queimadas na Amazônia, 26% do Pantanal carbonizado e a imagem internacional do país na lama.
Ele foi sintoma e não doença. Apenas cumpriu com eficiência o objetivo declarado de Jair Bolsonaro de fechar na prática o Ministério do Meio Ambiente.
A política ambiental do atual regime não mudará com a troca de seu executor – o sucessor, Joaquim Pereira Leite, foi um dos principais assessores de Salles. Sua afinidade com o ex-ministro e com a agenda de Jair Bolsonaro indicam que o boiadeiro mudou, mas a boiada segue a mesma.
Enquanto Bolsonaro estiver no cargo, com Arthur Lira para passar retrocessos no Congresso, o meio ambiente e os povos indígenas não terão um dia de paz. Seguiremos sendo um pária internacional e um risco climático planetário.

14.04.2021
Milícia ambiental
Com um mês no cargo, a presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara colocou em marcha projeto de lei que dá poder às Polícias Militares para aplicar multas ambientais, conceder licenças ambientais e embargar propriedades, abrindo caminho para escantear de vez o Ibama.

14.04.2021
Notícia-crime contra
Salles
O delegado da PF Alexandre Saraiva acusou o ministro Ricardo Salles de favorecer madeireiros em denúncia apresentada ao STF. O ministro pressionava pela liberação da maior apreensão de madeira nativa da Amazônia, realizada por Saraiva, que foi afastado do cargo.

05.05.2021
Sem julgamento
Um documento do Ibama destinado ao Tribunal de Contas da União revelou o fracasso do projeto de conciliação ambiental imposto por Salles, que travou o julgamento de multas ambientais. Eram julgados mais de 20 mil processos por ano. Esse número caiu para 5,5 mil em 2020.
06.05.2021
Dois planos e
nenhum resultado
Às vésperas da cúpula do clima e após dois anos de desgoverno, Salles e Mourão soltaram planos de combate ao desmatamento para americano ver.
Fonte

23.06.2021
GENOCIDAS
E ORGULHOSOS
Presidida por Bia Kicis, deputada bolsonarista investigada por atentar contra a democracia, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprova o PL 490, que oficializa o genocídio indígena ao mudar o rito de demarcação de terras. O texto afirma que só terão direito à terra indígenas que estiverem produzindo nela desde outubro de 1988.

23.06.2021
SALLES CAI,
ENFIM
Investigado no STF por nove crimes, incluindo advogar para madeireiros e facilitar contrabando de madeira para os EUA, Ricardo Salles enfim pede demissão do governo para não ir para a cadeia, sair do foco e abrir caminho para sua candidatura em 2022. Os dois delegados da PF que investigam Salles são punidos: um perde o cargo na chefia do Amazonas e é enviado para uma cidade no interior do Rio de Janeiro, e outro é exonerado.

04.08.2021
CHEQUE EM BRANCO
PARA A GRILAGEM
No mesmo dia em que o ministro britânico Alok Sharma, que presidiu a COP26, chegou ao Brasil para cobrar mais ambição do país, a Câmara aprovou o PL 2.633, que facilita a privatização de terras públicas de até 600 hectares ocupadas ilegalmente e abre a possibilidade de anistia permanente à grilagem. O PL 2.633 está em discussão no Senado, onde deverá ser fundido a um projeto ainda mais danoso, o PL 510, de autoria de Irajá Abreu, filho de Kátia Abreu que já ostentou o título de maior desmatador do Congresso.

11.08.2021
CARVÃO SUSTENTÁVEL
É A NOVA CLOROQUINA
No dia em que o IPCC lançou seu 6º Relatório de Avaliação, apontando como inequívoca a ação humana no aquecimento do planeta, o governo Bolsonaro anunciou um programa para incentivar a produção de energia via carvão mineral. O plano estimula a expansão do sistema e o uso de termelétricas a carvão até 2050, apesar da promessa do país de zerar as emissões no mesmo período.

30.09.2021
MAIS GARIMPO,
MENOS INDÍGENAS
Com as propostas do governo para liberar o garimpo em terras indígenas, essa atividade criminosa explode. Segundo dados do MapBiomas, em 2019 e 2020 foram abertas as maiores áreas de garimpo em terras indígenas desde a década de 1980 – a destruição de florestas pela mineração ilegal aumentou dez vezes no período.

07.10.2021
O PIOR LEILÃO
DA HISTÓRIA
Em leilão, o governo ofereceu a petroleiras áreas que abrangem a cadeia de montanhas submersas do santuário de Fernando de Noronha e da reserva biológica Atol das Rocas, em Pernambuco, entre outras áreas sensíveis. Após pressão de grupos ambientalistas, não houve interessados, como já havia ocorrido em 2019, quando o governo tentou leiloar blocos perto do Parque Marinho de Abrolhos, um santuário ecológico na Bahia.

28.10.2021
NA CONTRAMÃO
DO MUNDO
Dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) do Observatório do Clima mostram que as emissões do Brasil em 2020 subiram 9,5%, principalmente por causa do desmatamento, o que torna o país o único integrante do G20 com emissões em alta no ano da pandemia.

10.11.2021
NEW BOSS,
SAME AS THE OLD BOSS
Sucessor de Salles, o ministro Joaquim Leite mentiu sobre a ambição da meta climática do Brasil em discurso na COP26. Ele também fez uma ligação inexistente entre floresta e pobreza, se recusou a comentar dados de desmatamento e passou toda a conferência mentindo e escondendo o dado que o governo já tinha sobre a maior alta na devastação em 15 anos.

17.11.2021
PÁRIA
INTERNACIONAL
União Europeia propõe lei para impedir a importação de produtos como carne, soja, madeira e couro produzidos em áreas de desmatamento. Reino Unido e Congresso americano também avaliam restrições, e chineses declararam na COP26, sem definir prazo, que vão exigir desmatamento zero no comércio internacional.

19.11.2021
O BRASIL REAL
DE BOLSONARO
O desmatamento na Amazônia atingiu em 2021 a maior taxa em 15 anos: 13.235 km2, alta de 22% em relação a 2020. Foi o terceiro aumento consecutivo no governo Bolsonaro. A explosão do desmatamento coincidiu com o menor número de multas ambientais na Amazônia em duas décadas. E o governo Bolsonaro escondeu a alta do desmatamento durante as duas semanas da COP26. Nota do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com os dados, divulgada no dia 18/11, estava pronta desde 27/10, quatro dias antes do início da conferência de Glasgow.

31.11.2021
LAVAGEM
DE OURO
Sem fiscalização da Agência Nacional de Mineração (ANM), garimpos “legalizam” ouro roubado de terras indígenas e áreas protegidas. Em 2019 e 2020, mais de 6 toneladas de ouro comercializadas no país vieram de lavras que só existem no papel. Pelo menos 220 áreas de garimpo regularizadas, mas inativas, são usadas para acobertar origem ilegal do minério.
